Domingo VI da Páscoa

Não vos deixarei sós no mundo, diz Jesus. Ele vai para o Pai; mas vai encontrar forma de continuar presente e de acompanhar, a par e passo, a caminhada dos seus discípulos – a tua caminhada.

Para que Ele te acompanhe é preciso, no entanto, que continues a seguir Jesus, a manifestar a tua adesão a Ele, a amá-l’O. A consequência desse amor é cumprir os mandamentos que Jesus deixou. Então, os mandamentos deixam de ser normas externas que é preciso cumprir, para se tornarem a expressão clara do amor dos discípulos e da sua sintonia com Jesus (João 14:15).

Como é que Jesus vai estar presente ao teu lado, dando-te coragem para percorrer “o caminho” do amor e do dom da vida?

1. Jesus fala no envio do “Paráclito”, que estará sempre com os discípulos (João 14:16). A palavra grega “paráklêtos”, utilizada por João, pertence ao vocabulário jurídico e designa, nesse contexto, aquele que ajuda ou defende o acusado. Pode, portanto, traduzir-se como “advogado”, “auxiliar”, “defensor”. A partir daqui, pode deduzir-se, também, quer o sentido de “consolador”, quer de “intercessor”.

No Novo Testamento, a palavra só aparece em João, onde é usada quer para designar o Espírito (cf. João 14:26; 15:26; 16:7), quer o próprio Jesus (que no céu, cumpre uma missão de intercessão – cf. 1 João 2:1).

O “Paráclito” que Jesus vai enviar é o Espírito Santo – o “Espírito da Verdade” (João 14:17). Enquanto esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os; mas, a partir do envio do Espírito, é Ele que ensina e cuida da comunidade de Jesus até aos nossos dias – e no futuro, enquanto houver mundo.

Assim, o Espírito tem para ti um duplo papel:

– conserva a memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando-te a interpretar esses ensinamentos à luz dos desafios do teu dia-a-dia;

– dá-te segurança, guia-te e defende-te quando tiveres de enfrentar a oposição e a hostilidade do mundo. Em qualquer dos casos, o Espírito conduz-te ao encontro da verdade, da liberdade plena, da vida definitiva.

2. Jesus reafirma aos discípulos que não os deixará “órfãos” no mundo.

A palavra utilizada (“órfãos”) é muito significativa: no Antigo Testamento, o “órfão” é o protótipo do desvalido, do desamparado, do que está totalmente à mercê dos poderosos e que é a vítima de todas as injustiças. Jesus é claro: os seus discípulos não vão ficar indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles.

É verdade que Ele vai deixar o mundo, vai para o Pai. O “mundo” deixará de vê-l’O, pois Ele não estará fisicamente presente. No entanto, Ele garante que  podemos “vê-l’O” (“contemplá-l’O”): continuamos na mesma comunhão de vida com Jesus e recebemos o Espírito que nos transmite, dia a dia, a vida de Jesus ressuscitado (João 14:18-19).

3. O Espírito faz de nós comunidade e torna-nos parte da família de Deus.

No dia em que Jesus foi para o Pai e os discípulos receberam o Espírito, a comunidade descobriu-se parte da família de Deus (João 14:20-21). Jesus identifica-Se com o Pai, por ter o mesmo Espírito; os discípulos identificam-se com Jesus, por acção do Espírito. E por esta mesma ação do mesmo Espírito nós, como comunidade; tu, como batizado, somos identificados com Jesus, fazemos parte da Sua família.

Como comunidade cristã, estamos unidos ao Pai, através de Jesus, numa experiência de unidade e de comunhão de vida entre Deus e o homem.

Nesta presença diante do Espírito, somos, como comunidade, a presença de Deus no mundo: cada um de nós, e todos como comunidade, convertemo-nos em morada de Deus, o espaço onde Deus vem ao encontro dos homens. Em cada um de nós, na nossa comunidade e através dela, realiza-se a acção salvadora de Deus no mundo.

PPP

– Pedir o Espírito Santo: “Pai em Nome de Jesus, dá-me o Teu Espírito!”